Fellini por Tazio Secchiarioli durante a filmagem de “8 ½”.
Federico Fellini Ferrari nasceu em Rimini, na Emília-Romanha, em 1920. Com martelo e bigorna, na forja, ele fez o retrato mais lindo da Emília-Romanha, um filme chamado “Amarcord” [“Io mi recordo”, “eu me lembro”]. É uma obra tão atordoante, tão cheia de vida, tão desconcertante, que é como se ele tivesse alterado para sempre o modo como se pode falar da Itália, pensar a Itália, viver a Itália. “Amarcord” é um espelho e é ao mesmo tempo um farol que penetra no meio da escuridão, revelando o velado, dando lugar ao tapado, o feio e o maravilhoso de uma cidade à mostra, de uma família a céu aberto, aquela de cada um. A cena da névoa sobre a cidade é de uma beleza inesquecível. Como filmar a névoa? Fellini fez. A Emília-Romanha está ali. Fellini des-nevoou-a para sempre. Ele fez? Palavras do ferreiro:
“Quando acontece de eu rever sem querer um filme que fiz, coisa que não faço a não ser desse jeito, ou ver uma fotografia dele ou um pedaço mostrado na televisão, muito frequentemente eu me pergunto subitamente, “mas quem fez isso?”. Desde o primeiro momento em que começo a trabalhar em um filme, sou habitado por um obscuro morador, um morador que eu não conheço e que prende as cordas da lona [do circo]. Ele faz tudo por mim. Eu só coloco à sua disposição a minha voz, o meu conhecimento de artesão, as minhas tentativas de sedução, de plágio ou de autoridade. Mas é o outro verdadeiramente quem faz, esse outro que eu convivo mas que não conheço de forma direta, só de ouvir falar”.
Fonte: depoimento de Fellini na abertura do magnífico documentário francês “Fellini, je suis um grand menteur” [Fellini, ‘eu sou um grande mentiroso’] do diretor canadense Damian Pettigrew, realizado em 2002.
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