sábado, 18 de fevereiro de 2012

JARDIM

Hércules colhendo os pomos de ouro no Jardim das Hespérides, em seu último dos doze trabalhos. Mosaico na cidade de Liria, Valência, Espanha, c. 201 e 250 d.C. Fotografia de Luis García in Wikipedia.

Para os gregos, Esperia. Essa nova terra, novo mundo, terra magna, Magna Grécia, essa América-antes da América queria dizer Hespérides, deusas primaveris.  Para os gregos, essa terra nova situava-se no além, em um Ocidente longínquo, estranho, não-grego – e aí o desafio de ocupá-la, tornar conhecido o desconhecido, fazer a travessia do impossível. Então eles batizaram essa nova terra de  Esperia. As deusas Hespérides, na mitologia grega, são filhas da Noite e da Escuridão, personificam a luz da tarde e o ciclo do entardecer. São elas Egle, “a radiante”, a deusa da luz avermelhada da tarde, Erítica, “a esplendorosa”, a deusa do esplendor da tarde e Hespéra, “a crepuscular”, deusa do crepúsculo vespertino. Além das deusas, há as ninfas Hespérides, ninfas do poente, que tinham o dom da profecia e da metamorfose. São elas Aretusa, Hespéria, Hespéris, Egéria, Clete, Ciparissa e Cinosura. Elas eram as donas do jardim das Hespérides, o mais belo da Antiguidade, o jardim dos imortais, pois continha um pomar que abrigava árvores mágicas de onde nasciam os pomos de ouro, considerados a fonte da juventude eterna – quem diria que esse tema, esse mito iria retornar, iria se encarnar séculos depois, na Idade Média, na famosa Terra da Cocanha, uma espécie de paraíso perdido revisto e atualizado na época? Mas não era fácil chegar ao jardim – havia que atravessar a gruta das Gréias e a gruta das Górgonas. O próprio jardim era povoado de monstros, como um terrível dragão de cem cabeças. Há relatos de que apenas dois mortais, dois heróis, conseguiram entrar neste jardim e sair dali vivos: Perseu, quando foi ali enfrentar Medusa, e Héracles ou Hércules, em um de seus doze trabalhos. Esperia, Hespérides, Itália. Um jardim perigoso, um jardim maravilhoso, um jardim das árvores mágicas, um jardim das Górgonas, a vida e a morte juntas. Eros e Tânatos no jardim.

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