“Amolador” da série “Ambulantes” de Marc Ferrez (ferreiro), no Rio de Janeiro em 1895.
Das dores, destinos. O que fazer com a dor? Ele afia, a desafia, a desfia devagarinho com sua roda do esmerilho. Com o pé, ele faz girar a roda, ele põe a dor na roda – há dor nesta roda, basta lê-la de trás prá frente. Ele, meu irmão, pega a dor com carinho, afina-a, desbasta-a, torna-a mais aguda, mais cortante, para lembrar que vida sem dor não é vida. A vida e a dor andam juntas. Se tirar uma, a outra desanda, a outra emperra, a outra fica cega. Há dor nesse ferreiro, um ambulante sem nome, minha família, um ferreiro assim. Ferrari.
Quando eu era pequena ouvia as músicas com minha mãe, ou a ouvia cantar. Isso me deu a capacidade de descobrir que afiador era afia a dor. E sempre via aqueles homens que passavam na rua afiando a tesoura como afia a dores. Ninguém mais era como parecia ser. abraços
ResponderExcluirMarta
Cara Marta, que bonito isso! Um abraço.
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