sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

AMANHECER

“Estrangeiros em todos os lugares” de Claire Fontaine. 
 
Ninguém sabe ao certo de onde se originou o nome Itália. É evidente aqui como o inconsciente de cada historiador, de cada linguista, de cada pesquisador se revela sem querer se revelar. Para alguns, carentes de uma linhagem nobre, monárquica, Itália vem do antigo e nunca encontrado rei Italo, que teria vivido dezesseis gerações antes da guerra de Tróia e teria sido rei do povo dos Enotri. Para outros, dotados daquele humor e ironia maravilhosos que tão bem caracterizam o italiano, a origem não é real, ela é animal. Eles localizam em um antigo povo do sul, os oscos, a palavra “vitluf” (bezerro) e “vitellus” (bezerrinho) e moedas da época com a imagem de um touro jovem “vitalos” e que, segundo eles, em pouco tempo teria se convertido em “ítalos”. Novos pesquisadores trouxeram ao debate a origem africana do nome, originada dos Taliani, gente oriunda de uma cidade africana chamada Tala. Mas aí, pedir a um italiano que se identifique com um africano parece demais. Então chegaram os pessimistas, para quem essa busca nunca chegará à verdade, pois ninguém sabe a qual língua pertence o nome Itália. Ora, na minha versão preferida, surge a etimologia grega. Ela declara que o nome se origina da palavra grega Aιθαλία (Aithalìa), cuja parte inicial Aith- remete às palavras gregas que se referem ao fogo. Daí uma dedução elementar: foi de um ferreiro grego esta definição. Só pode. Por generosidade, acrescento os que discordam e dizem que isso seria uma referência à dimensão vulcânica das terras da península, tendo em vista que o vulcão Etna em grego antigo se diz “Aitna”. Ainda sobre os gregos, antigos conquistadores imperialistas da parte sul da Itália, o que ficou conhecido como Magna Grécia, a Grande Grécia, essas terras eram chamadas de Esperia, “terra do pôr do sol”, porque, em comparação com a terra-mãe deles, a Grécia, que ficava no Oriente, onde o sol nascia, a Itália para eles era o Ocidente, onde o sol caía. Esse era um jeito elegante de um grego dizer: fora da nossa terra, só existe a barbárie, a noite do mundo. Bárbaro aliás, é uma palavra que em grego quer dizer todo aquele que não sabe falar a língua grega, e por isso a balbucia. Bom, coube a esses balbuciadores demonstrar que de uma noite se pode fazer um amanhecer.

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