quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

NÓS NEGROS

Cabeça de bronze de um oba de Ifé, c. 1200. Fotografia de Andrea Jemolo no Museu de Antiguidades de Ifé, Nigéria. Com a palavra, Julian Bell: “O oba era um sacerdote-rei na cidade sagrada de Ife, no que é hoje a Iorubalândia. Ele descendia da divindade criadora Oduduwa e teria passado seu reinado no mais recôndito santuário do palácio, longe dos olhos dos mortais comuns. Ife foi o grande centro da metalurgia nigeriana entre os séculos XI e XIV; pouco antes disso, no sudeste, Igbo-Ukwu produzira obras de uma sofisticação técnica sem paralelo na época, em qualquer parte do mundo (...) As culturas do oeste africano tendem a fazer suas imagens em pares. O par desta aqui, a representação externa do rei, não teria sido a da rainha (...), mas um cilindro diminuto e ereto, uma abstração dotada de olhos – a imagem do interior, do homem espiritual.” Fonte: Julian Bell in Uma Nova História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 132.

Na mitologia africana, um ferreiro divino é aquele que prepara o universo para a humanidade, é aquele que desce do céu.

“Segundo o povo fon de Benin, na África Ocidental, o filho mais velho de Mawu-Lisa, as deidades criadoras gêmeas, era Gu, o ferreiro celeste. Ele foi trazido à terra por Lisa, o gêmeo masculino, na forma de uma espada de ferro cerimonial que ele segurava. Diz-se que Gu foi então encarregado de tornar a terra habitável para os seres humanos, tarefa que ele nunca abandonou. Gu ensinou a trabalhar o ferro e mostrou às pessoas como produzir ferramentas para que pudessem obter alimento, cobrir seus corpos e construir abrigos. Amma, o deus criador dos dogons, fez o primeiro ferreiro espiritual da placenta de um Nommo. Mas esse espírito não tinha fogo, então ele roubou um pedaço do sol dos gêmeos celestiais Nommo e desceu à terra em um arco celeste. Outros mitos da região do Saara contam como o primeiro ferreiro fez um arado do crânio de um antílope celestial chamado Bintu, depois desceu à terra com ele para ensinar a recém-criada raça humana a cultivar” (Roy Willis in Mitologias. Editora Publifolha, 2007, p. 267).

Ora, como falar de África, de Ifé, sem falar de Ogum? Acredita-se, no candomblé, que todos somos filhos de orixás. Ogum é o orixá da guerra e do fogo.  

Conhecido também como ferreiro, é uma espécie de herói civilizador africano à medida que conhece os segredos da forja necessários para a fabricação de instrumentos agrícolas e de guerra. Por isso, seus símbolos são a espada e ferramentas como enxada e a pá. No mito, Ogum teria sido o filho do rei Odudua, fundador da cidade de Ifé (o principal centro divulgador da cultura iorubana da África) e conquistador de vários reinos” (Vagner Gonçalves da Silva em “Redução de Divindades” in Grandes Religiões 6 – Cultos Afros, ed. Duetto, 2010, pp. 20-21).

Ferreiros africanos, Ferraris africanos. Nós, europeus, nós brasileiros, nós mediterrâneos, nós amazônicos, nós do rio Panaro, nós do Rio Grande do Sul, nós africanos, nós negros. Ferraris, ferreiros.

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