quinta-feira, 29 de março de 2012

RÉQUIEM PARA UM FERREIRO

“La Nuit étoilée” [A noite estrelada], Saint Rémy, junho de 1889 de Vincent van Gogh in MoMA, The Museum of Modern Art, Nova Iorque.

Marco Giovanni Ferrari, Faber ferrarius, mestre artesão. 
Um ferreiro lavrador, que pôs as mãos na terra para escavar,

para sulcar, para plantar, para retirar dela o objeto escondido,
o objeto perdido. Não achou.
Achou o metal incandescente, o metalitálico, corpo sideral.
Desse desencontro fez canções, as de ninar, 

no berço de seus doze filhos,
as das histórias das viagens de Dante, de Colombo, de Marco Polo,
as do país da Cocanha, mundos novos, o espaço sideral, 

Oceano Panaro.
Este homem, entre fiandeiras e costureiras, à beira do rio,
andou, coxeou, cambaleou, caiu, desfaleceu, morreu.
Restou uma centelha, dentre as ruínas, uma fagulha,
fogo ascendente, a iluminar a névoa.
Desnévoa agora.

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