segunda-feira, 26 de março de 2012

TEMPO DA COLHEITA

Anúncio do “Prosciutto di San Daniele” [presunto cru de San Daniele], fabricado por um consórcio, uma cooperativa de produtores de San Daniele del Friuli, em Udine, Itália. Só utiliza porcos criados em dez regiões do Norte da Itália, dentre elas a Emilia Romagna. O anúncio foi publicado em página inteira do jornal La Repubblicca de Roma em 14 de novembro de 2010.

Na brincadeira do querido primo Marino diante do fato de Marco Giovanni e Maria Flandi terem tido doze filhos, ou seja, o que mais havia para se fazer em Cervara, há um enigma muito interessante. O que se fazia em Cervara além de filhos, é claro?

A resposta precisa de uma precisão maior na pergunta. O que fazia uma família de “possidentes” (donos da terra, donos da propriedade) de Cervara? E isso é muito importante, porque a primeira resposta é que eles não precisavam trabalhar só para os outros, não precisavam ser servos nem servidores de uma Itália ainda feudal no campo, bem longe do imaginário de uma Itália unificada e/ou renascentista, por exemplo. A Itália feudal permanece ainda hoje incrustada em cada cidadezinha, em cada povoado, em cada pedaço da Itália moderna. É por causa dela que teve início no século XIX a longa e impressionante emigração de seu povo, faminto, miserável, sem terra para plantar, sem terra onde viver, sem trabalho devido à “revolução” industrial que se aproximava lentamente com a promessa de suas máquinas “maravilhosas”, cuja primeira e mais cruel consequência foi não ter previsto nem ter se importado minimamente sobre o que fazer com quem era “substituído”, ou seja, o “resto” de milhões de pessoas absurdamente exiladas do ganha pão de cada dia. Para essa massa de desarvorados, não havia mais pão e não havia mais cada dia.

Ora, desta vez, pelo menos até os dezoito anos de Valentino Cesare Ferrari, isso não aconteceu na família Ferrari. Havia Cervara. Havia comida, havia água, havia onde morar. Havia cultivo de grãos, havia estábulo de vacas, havia criação de porcos – ou seja: faziam em Cervara – e fazem ainda nesta região – dois dos maiores produtos de exportação da Itália de hoje: o presunto cru e o único queijo que se pode chamar de parmesão no mundo, o “Parmigiano Reggiano”. Isso se fazia em Cervara. Pelo menos enquanto Marco Giovanni Ferrari foi “possidente”. Em breve isso mudaria.

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