Mapa do mundo do cartógrafo alemão Heinrich Hammer que viveu e trabalhou em Florença no período de 1480 a 1496. Lá ele ficou conhecido como Henricus Martellus Germanus. É provável que Colombo tenha utilizado este mapa para convencer os reis católicos da Espanha, Fernando de Aragão e Isabel de Castela, a patrocinar sua viagem. Através deste mapa, ele provou que não havia grande distância entre a Europa e a China pelo oceano. O mapa também foi o primeiro a mostrar a passagem, a dobra do Cabo da Boa Esperança feita pelos portugueses no sul da África em 1488.
Carlo Ginzburg no seu belíssimo O Queijo e os Vermes (Il Formaggio e i vermi) traz uma outra versão do País da Cocanha, publicada quase que na mesma época, menos bem-humorada ou, nas palavras do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), menos dionisíaca e mais apolínea, menos embriagadora, menos o que deve vir e mais o que é, mais medida, mais harmonia:
“Já Anton Francesco Doni usou uma linguagem totalmente diversa numa das primeiras e mais conhecidas utopias italianas do século XVI: o diálogo, inserido no Mondi (1552), intitulado justamente: “Um mundo novo”. O tom aqui é seriíssimo; o conteúdo, diferente. A utopia de Doni não é camponesa como a do país da Cocanha, mas rigorosamente urbana, localizada numa cidade cuja planta tem forma de estrela. Além disso, os habitantes do “mundo novo” descrito por Doni levam uma vida sóbria (“me agrada esta ordem que apagou o vitupério das bebedeiras [...] o empanturramento de cinco, seis horas à mesa”), totalmente distante das pândegas da Cocanha. Entretanto, o mesmo Doni fundia o antigo mito da idade do ouro com o quadro de inocência e de pureza primitivas traçado pelos primeiros relatórios sobre o continente americano. A alusão àquelas terras estava implícita, somente: o mundo descrito por Doni era apenas “um mundo novo diverso deste”. Graças a essa ambígua expressão, pela primeira vez na literatura utópica o modelo da sociedade perfeita podia ser projetado no tempo, no futuro, e não no espaço, numa terra inacessível.”
Fonte: Carlo Ginzburg in O Queijo e os Vermes. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 167.
Essas versões dos pais, seja a carnavalesca utopia camponesa da Cocanha, seja a quarta-feira de cinzas de Doni, passaram de Giambattista para seus filhos, dentro eles Marco Giovanni. De Marco Giovanni para seus filhos, dentre os quais, Valentino Cesare. De Valentino Cesare para seus filhos, dentre eles Mario Ferrari. De geração em geração, essas versões foram misturadas e remexidas, foram alteradas e ditas pela metade, ditas como brincadeira, ditas com seriedade, meio-ditas, mal ditas, bem ditas. Um dia, Mario faria com elas a sua versão.
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