domingo, 25 de março de 2012

AURORAS


Detalhe do Livro de Batismo nº 339 da Igreja San Leonardo em Rosola, Zocca, província de Modena, Emilia-Romagna, Itália.

Marco Giovanni e Maria Flandi se casaram em 14 de outubro de 1831. O primeiro filho nasceu um ano depois, porém não sobreviveu. Se chamava Giovanni Battista Inocenzo, nascido em 4 de janeiro de 1832. No ano seguinte, nova tragédia. Anna Maria, nascida em 20 de fevereiro de 1833, também não sobreviveu. Assim também no ano seguinte, quando nasceu Giovanni Batista Isidoro em 4 de abril de 1834. Somente em 12 de junho de 1835, com o nascimento de Pietro Giacomo, eles puderam comemorar. Pietro Giacomo é o único de todos os filhos a estar registrado com a “condizione, professione, od arte” [condição, profissão ou arte] de “studente”, estudante – uma raridade na época. Dois anos depois, em 14 de maio de 1837, nasceu Anna Maria, profissão “sarta” [costureira] e a única das mulheres a se casar – segundo esta certidão de batismo. Ela se casou com Giovanni Benelli em data não registrada. De qualquer modo, eis aí novos primos em nossas vidas – quando encontrarmos um Benelli desta região da Itália, poderemos cumprimentá-lo com alegria: ali estará a presença de Anna Maria. Dois anos depois do nascimento de Anna Maria, em 11 de janeiro de 1839, nasceu Angiola, profissão “filatrice” [fiandeira]. Dois anos depois, em 16 de dezembro de 1841, nasce Domenico Eusébio. Aí, três anos depois, nasce Luigia Aurora Maria, em 9 de julho de 1844. Que nome mais lindo, Aurora! O que terá acontecido com ela? Terá sua vida cumprido esta promessa inscrita no próprio nome? O que se sabe é que, dois anos depois, em 20 de maio de 1846, nasceria Luigi. E então, dois anos depois, Valentino Cesare, em 15 de fevereiro de 1848. Mais uma vez, dois anos depois, novo nascimento: em 20 de outubro de 1850, Marco Domenico. Três anos depois, o último nascimento registrado: em 27 de julho de 1853, o nascimento de Anna Giuliana. Ela foi a 12ª e última filha deste casal. Como brincou o querido primo Marino diante desta espetacular quantidade, o que mais fazer em Cervara?

Há aqui quatro mistérios neste livro de batismo. O primeiro deles: os nomes de Maria Teresa, a irmã de Marco, dos filhos de Marco, Anna Maria e Angiola e de seu servidor Emilio Tonelli, estão riscados, com um traço horizontal. Provavelmente, isso significa que eles estão registrados também em outro livro de batismo. Da mesma forma o segundo mistério, que são os traços verticais sobre todos os nomes. Provavelmente isso indica a transferência desses registros para outro livro. O terceiro mistério é que as crianças que não sobreviveram, não estão registradas nesta página – assim, Giovanni Battista Inocenzo, Anna Maria e Giovanni Batista Isidoro, não aparecem registrados com seus irmãos. Talvez fosse um costume desses sacristãos-escreventes, o de registrar os recém-nascidos mortos em outro livro – provavelmente porque não houve tempo de batizá-los. O quarto mistério é que quase todos os nascimentos estão registrados em ordem cronológica da data de nascimento, exceto os nascimentos de Valentino e de Luigi. Estranhíssimo que Valentino, nascido em 1848, venha antes de Luigi, nascido dois anos antes. A hipótese é que eles tenham sido batizados bem mais velhos – porém, o mistério continua. A mais nova dos irmãos, Anna Giuliana, aparece na ordem certa – e se ela foi batizada logo, porque seus irmãos Valentino e Luigi não? Dentro deste mistério, por que o servidor Emilio Tonelli está registrado antes de Valentino e Luigi? Não faço ideia.  

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